floquinhos

quarta-feira, 30 de março de 2011

Mãos que derramam carinho...

José Mauro de Vasconcelos, um dos mais doces escritores de meu coração, abre seu livro "Rosinha minha canoa" com uma explicação:


"ANTIGAMENTE, quando escrevia, deixava entrever minha ternura mas com muito medo. Queria que todos os meus romances cheirassem a sangue e viessem rotulados com o carimbo de: Machos pra Burro. Foi preciso que chegasse aos quarenta anos para perder todo o terror de minha ternura a derramar por minhas mãos que queimam de carinho (quase sempre sem ter ninguém para o receber) a simplicidade deste meu livro. Leia-o quem quiser. De uma coisa estou certo: não tenho nada de que me desculpar perante o público. Apresento, pois, ROSINHA, MINHA CANOA"

E havia tanta ternura no coração desse homem que transbordou para além de sua obra, para além de seu tempo...  Ternura expressa magistralmenete em "Meu pé de laranja lima", um dos meus livros de cabeceira... Hoje, sem mais esta nem aquela, resolvi reler (mais uma vez)  Rosinha minha canoa e, mais uma vez, fui tocada pelas palavras com que José Mauro apresenta seu livro, por isso trouxe-as para o Prosa. E, para aqueles que não se envergonham da ternura que os invade, um convite para voltar a ler esse escritor lindo, doce, que já foi designado como piegas pela crítica literária, mas que eu, derramada em ternura, sempre acolhi com carinho de leitora atenta e fiel. 


segunda-feira, 28 de março de 2011

Faxinal do Soturno - Vamos conhecer?


Mais uma vez o Prosa leva seus amigos e leitores a um  passeio por uma cidade deste nosso imenso país. Como sempre,  a escolha é feita entre os visitantes diários deste blog e baseia-se no fato da cidade ter um nome diferente, curioso, que chame a atenção, e que seja uma cidade para nós, até então, desconhecida... Hoje vamos até o coração do Rio Grande Sul onde, entre montanhas e vales, rios e grutas,  encontramos  "Faxinal do Soturno". 
Com uma população de aproximadamente seis mil e oitocentos habitantes, esta pequena cidade de colonização  italiana, conserva  em seus  usos e costumes, em seus  hábitos e alimentação, a cultura trazida por seus colonizadores. Uma influência presente também em seus  monumentos e na vivência religiosa de sua gente. Em desenvolvimento crescente, alicerça sua economia na agricultura, na indústria e no comércio.
Fui buscar no site da prefeitura da cidade a explicação para o nome tão diferente desse município:
"A origem do seu nome vem do Rio Soturno, que banha suas terras, de nome sinistro, porém, doa-se em nome e riqueza, nas suas margens o arroz irrigado, nas partes altas o potencial energético. Em que época a denominação de Campo do Meio foi substituída pela de Campo dos Bugres e esta por Faxinal do Soturno, ninguém sabe. Sabe-se, entretanto, que o nome de Soturno foi motivado pelos pantanais ribeirinhos, que nos primeiros tempos se apresentavam cobertos de mato cerrado e escuro, lugar soturno e perigoso, principalmente nos meses de maio a setembro, época das chuvas."
E como (segundo os chineses) uma imagem vale mais que mil palavras, ficam abaixo algumas fotos desse lugar distante que se fez presente numa visita ao Prosa.




Para começar a semana...

A poesia de Cacília Meireles, pura nostalgia...


Assim moro em meu sonho

Assim moro em meu sonho,
como um peixe no mar.
O que sou é o que vejo,
Vejo e sou meu olhar.

Água é o meu próprio corpo,
simplesmente mais denso.
E o meu corpo é minha alma,
e o que sinto é o que penso.

Assim vou no meu sonho.
Se outra fui, se perdeu.
É o mundo que me envolve?
Ou sou contorno seu?

Não é noite nem dia,
não é morte nem vida;
é viagem noutro mapa,
sem volta nem partida.

Ó céu da liberdade,
por onde o coração
já nem sofre, sabendo
que bateu sempre em vão.

(Cecília Meireles)

domingo, 27 de março de 2011

Sonhar deveria ser sempre possível, mas...


Ontem a tarde uma velha amiga veio visitar-me. Após a alegria da chegada, os efusivos cumprimentos de todo o sempre, a conversa enveredou pelos caminhos da vida já percorridos e foi então que notei que havia uma certa opacidade em seu olhar, um olhar que sempre fora radiante, que sempre carregara um quê de malícia e um certo “joie de vivre” que  me encantava.
Segurei uma de suas mãos entre as minhas e perguntei o que estava havendo, onde andava sua alma sempre tão presente e visível quando nos encontrávamos e, entre surpresa e um tanto incrédula, ouvi-a dizer, simplesmente:
- Pois é, minha amiga, Imagine  que perdi minha capacidade de sonhar e, sem sonhos, minha vida perde a graça...  
E depois disso, a conversa só tinha que enveredar por entre os encontros e desencontros da vida, entre a lealdade e a deslealdade que giram em torno de todos nós e até onde nossa capacidade de reagir nos leva em situações de frustrações e mágoas, de desencanto e dor... E devo confessar que ela carregava em seu coração uma bagagem bem pesada... Sempre soubera contornar dificuldades, solucionar problemas, sobrepujar barreiras e situações, sempre encontrando um novo e promissor caminho por entre as alamedas da vida, mas entendo que, golpe após golpe, essa capacidade vá mesmo diminuindo, enfraquecendo, levando certas pessoas a uma solidão imensa, ainda que rodeada de gente, ainda que plenamente realizada em sua carreira e muito feliz com as realizações de seus filhos e netos...
E, em dado momento,  lágrimas a rolar pela face, ela murmurou:
- Sem amor, sem encantos, quando a noite chega, ao encostar a cabeça no travesseiro,  a sós comigo mesma, abraçada pela saudade, sentindo a solidão e vazio como companhia... Fica muito difícil sonhar...
É!... Por vezes, as maldades da vida vencem até os mais fortes guerreiros...

sábado, 26 de março de 2011

Um momento com Cecília Meireles...


Não perguntavam por mim,
mas deram por minha falta.
Na trama da minha ausência,
inventaram tela falsa.


Como eu andava tão longe,
numa aventura tão larga,
entregue à metamorfose
do tempo fluído das águas;
como descera sozinho
os degraus da espuma clara,
e o meu corpo era silêncio
e era mistério minha alma,
- cantou-se a fábula incerta,
segundo a linguagem da harpa:
mas a música é uma selva
de sal e areia na praia,
um arabesco de cinza
que ao vento do mar se apaga.


E o meu caminho começa
nessa franja solitária,
no limite sem vestígio,
na translúcida muralha
que opõem o sonho vivido
e a vida apenas sonhada.


Cecília Meireles
(Metal Rosicler)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Na madrugada...


No silêncio da madrugada, vagar pela casa, ouvir meus próprios pensamentos... Ha quanto tempo não fazia isso! Ao longe o ronco de um carro, luzes emanando de uma ou outra janela dos prédios vizinhos, o céu estrelado, tão estrelado quanto o possa ser nas noites de São Paulo... Na cozinha, preparo um café. Em algumas madrugadas insones prefiro o chá ao café, talvez porque minha alma inquieta precise de paz, mas hoje, meio modorrenta, minh'alma precisa de algum estímulo... Vou saborear meu primeiro café do dia no terraço, vou esperar o nascer do sol imersa em meus pensamentos, mergulhada em mim mesma, tentando coordenar idéias, encontrar rumos... Quando menos se espera, lá está a vida cobrando da gente decisões, mudanças... E nesta minha longa caminhada tenho entendido que nunca se faz tarde para novos rumos. As vezes tudo o que precisamos é de uma gotinha de coragem para recomeçar, sem muito medo do que poderia vir pela frente. E como a madrugada é boa conselheira, converso com ela em mais este amanhecer...

quinta-feira, 24 de março de 2011

Um tempo para...


"Um dia desses, eu separo um tempinho e ponho em dia todos os choros que não tenho tido tempo de chorar."

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma linda, linda mulher...


Ela foi Cleópatra, foi megera domada, foi gata que andou em teto de zinco quente, encontrou um lugar ao sol, aprendeu que assim caminha a humanidade, teve um quase incontável numero de maridos, brilhou tanto quanto os seus diamantes, por jornais e revistas, ganhou dois Oscars, encantou em todas as telonas do mundo, fez sonhar, provocou suspiros e invejas... Sempre foi magia, mas a partir de hoje essa diva do cinema, que já era uma lenda, passa a ser mais uma saudade...

O mundo cinematográfico fica meio sem graça sem Elizabeth Taylor que, com seus olhos cor de violeta, foi uma das mulheres mais lindas do mundo...

terça-feira, 22 de março de 2011

E, mais uma vez, voltando ao ninho...


Pois é, meus amigos, já é tempo de voltar ao ninho... Malas prontas e, em algumas horas saio de volta para Sampa, cruzando o Trópico de Capricórnio no sentido inverso ao da foto...  Claro que o coração vai apertado, mas é sempre assim. Sempre vou passando de um lugar para outro sentindo saudades por antecipação, dos que ficam... Winchester, São Paulo, Campinas, em cada um desses lugares tenho sentido a alegria do chegar e a nostalgia do partir, mas meu coração agradece a Deus e a vida por poder transitar entre eles, conviver com amores e amigos de cada um desses lugares.
Despeço-me, temporariamente de Campinas e volto a conversar com vocês lá de Sampa, no aconchego do ninho, que tão pouco tem me acolhido nestes últimos meses... 

domingo, 20 de março de 2011

E ai está o Outono...


(O lindo outono de Winchester, MA, em foto tirada no ano passado)

E para celebrar o Outono que chega hoje por aqui, ninguém melhor que Mario Quintana, que vem nos falar de um outro Outono, o da vida, que chega sem que sintamos e pode ser doce, prazeroso, como cabe a um momento tão especial, desde que o saibamos viver.

Canção de Outono



O outono toca realejo

No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida...

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
de carícia a contrapelo...

Partir, ó alma, que dizes?
Colhe as horas, em suma...
mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte alguma!


(Mario Quintana)


Que este Outono seja de suaves momentos para todos os leitores e amigos do Prosa que vivem aqui pelo Hemisfério Sul. E para os nossos amigos lá do Hemisfério Norte, devo desejar que a Primavera que chega por lá, venha trazendo lindos momentos com suas cores, luzes, flores, e aquele vibrante apelo ao amor que ela esparge  quando se instala...

O dom do riso...


"Tenho a impressão de que os homens estão perdendo o dom de rir."

(Charles Chaplin)

Será?... 
Quando vejo as pessoas correndo em seu dia a dia, sempre tão preocupadas com seus afazeres e suas compras, sempre tão empenhadas em serem bonitas e bem sucedidas, dando muito mais importância ao que os outros pensam delas do que ao que elas realmente são, acabo por concordar com nosso Carlitos...
Quando as vejo esquecidas de que a vida passa num átimo e de que é preciso viver cada momento com a alma aberta, quando atentando mais a elas, aos seus gestos, atitudes, expressões corporais, aos seus olhares e aos seus rostos, num momento em que, distraídas, permitem que  a máscara que vestem deixem entrever uma nesga de seus verdadeiros rostos, percebo neles a falta dessa alegria, dessa espontaneidade, que cada um de nós deveria ter diante da vida... 
E penso que Chaplin, um observador acurado da vida e dos homens, mais uma vez estava certo... Os homens perdem a cada dia o dom do riso, a possibilidade de serem felizes...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Balada para uma sexta-feira...



Já é sexta-feira! O tempo escorre por entre meus dedos como finos grãos de areia secos pelo sol inclemente de um meio-dia de verão... Ah, se eu pudesse reter o tempo, faze-lo caminhar um pouco mais lentamente para que eu pudesse demorar-me um pouco mais em meus caminhos e pudesse assim sorver tudo o que gira em torno de mim, gota a gota, num aprendizado enriquecedor para minha alma, sem deixar passar nada...  A alegria de uma  adolescente  em seu primeiro amor, a pureza de uma criança transposta em seu riso, a esperança de um jovem no  futuro, a força de um homem em seu trabalho, a delicadeza de uma mulher num momento de ternura, a doçura contida numa frase de amor, a ternura do olhar que uma mãe derrama sobre seu filho adormecido, a paz de um jardim ao luar, a força incontida do mar, a fúria de um vendaval, a beleza de um por de sol, a esperança do amanhecer, o abraço do amigo, a mão do homem amado, a vida... a vida...
Já é sexta-feira... O mundo segue seu curso, o tempo segue seu ritmo, eu sigo meus caminhos ainda plenos de sonhos, ainda com esperança no que possa vir, ainda senhora de mim e dos meus passos...
Feliz com a lucidez que minh'alma carrega, vou armazenando em mim momentos preciosos, emoções doces, ternuras, carinhos, serenidade, como uma bagagem para amenizar um inverno que talvez seja rigoroso e que está a espreita, numa curva qualquer dos meus caminhos. E que quando esse inverno chegar, quando eu chegar a ele, que minha alma esteja revestida de gratidão pela primavera da vida, alegre e despreocupada, pelo verão quente, gostoso, pleno de emoções, e pelo outono que tem sido doce, envolto em tantos sonhos, em tantos contidos sentimentos, em tanta serenidade preciosa nos momentos mais difíceis, na superação desses momentos, na paz relativa de meu coração.
Carrego comigo meu baú de memórias e meu baú de emoções e quando for inverno, sentada numa poltrona ao pé da lareira, tentando aquecer um frio que talvez venha da alma, vou poder abrir esses baús e, um a um, reviver meus sonhos, uma a uma, festejar minhas memórias ao revive-las ternamente. Haverá lágrimas, haverá sorrisos, haverá saudades, haverá amor... O mesmo amor que veio comigo do berço, que me acompanhou por todos os caminhos, sem esmorecer, sem perder a força. O amor que fechará meus olhos e que lançará minha alma para o infinito de uma nova vida...

quinta-feira, 17 de março de 2011

Já que o mês é da mulher...


(João) Roberto é meu primo irmão, mais irmão do que primo, nascemos e crescemos na mesma casa, lá no velho casarão do Brás e, como cabe a irmãos, temos muitas lembranças que são mútuas, de momentos compartilhados em família, com amor e carinho, o que nos une para além do respeito que lhe tenho pelo homem de caráter que é. Vivemos fisicamente distantes, passam anos sem que nos vejamos, mas estamos sempre em contato, pricipalmente depois que aderimos a esta janelinha que nos leva pelo mundo... E acabo de receber mais um e-mail dele que, segundo recomendação, deve ser repassado para todas as "mulheres maravilhosas" que conheço. E para os homens? Ah, para os homens também com uma observação: só para os que forem inteligentes... rs... Ora, como todos os leitores do prosa do sexo masculino são, sem exceção, homens inteligentes, e as leitoras são pra lá de mulheres maravilhosas, fica fácil.  E o texto vai então para todos os amigos e leitores do blog, homens ou mulheres, com um toque de desafio e como uma brincadeirinha... rs..

(PS: Não tenho o nome do autor do texto)


Meu nome é MULHER!

Eu era a Eva
Criada para a felicidade de Adão
Mais tarde fui Maria
Dando à luz aquele
Que traria a salvação
Mas isso não bastaria
Para eu encontrar perdão.
Passei a ser Amélia
A mulher de verdade
Para a sociedade
Não tinha a menor vaidade
Mas sonhava com a igualdade.
Muito tempo depois decidi:
Não dá mais!
Quero minha dignidade
Tenho meus ideais!
Hoje não sou só esposa ou filha
Sou pai, mãe, arrimo de família
Sou caminhoneira, taxista,
Piloto de avião, policial feminina,
Operária em construção..
Ao mundo peço licença
Para atuar onde quiser
Meu sobrenome é COMPETÊNCIA
E meu nome é MULHER!!! 

(Enviar a todas as MULHERES MARAVILHOSAS e apenas para os homens inteligentes)

Das saudades...


Hoje acordei com saudades... Saudades de mim, do meu gargalhar cristalino na alegria da vida, do riso fácil e ameno a iluminar meu olhar, da alegria de sua presença, do seu carinho, dos seus braços, da sua voz... Saudades de você... Saudades de mim, quando o tinha comigo...

terça-feira, 15 de março de 2011

Pensando e repensando...


Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.

(Lya Luft)

segunda-feira, 14 de março de 2011

No Dia Nacional da Poesia...



Nas estrofes finais de "Navio Negreiro", de Castro Alves, neste Dia Nacional da Poesia (*), minha homenagem aos "Poetas do Meu Coração", sem os quais minha vida seria muito sem graça, sem cor, sem luminosidade e, sem dúvida nenhuma, extremamente árida. 
E minha homenagem a todos os poetas leitores e amigos que por aqui passam, poetas que com suas presenças, com a sensibilidade de suas almas, enchem o Prosa de beleza e ternura.


Antonio Frederico de Castro Alves (14/03/1847 - 08/07/1871)

(...)
VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio.  Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ... 

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!... 

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

(Navio Negreido, de Castro Alves)

(*) O dia 14 de março foi escolhido como o Dia Nacional da Poesia por ser data de nascimento de Castro Alves, 

Novamente o canto do bem-te-vi...


Acordo com o canto arreliento do bem-te-vi, o que me faz sentir, antes mesmo de abrir os olhos e de chegar a janela, que o dia amanheceu azul, iluminado, nesta quase despedida do verão. Certamente teremos uma segunda-feira com cara de domingo de primavera, para incômodo de quem gosta de viajar ou de passear nos finais de semana, que têm sido chuvosos.
Ainda fora do ninho, vou me deixando ficar por aqui, semana após semana, nesta cidade acolhedora, entre amores e amigos que vão me permitindo uma temporada muito agradável, com momentos preciosos em boa companhia. É incrível como parece que o passar do tempo acelera quando se está bem, como dias e semanas passem sem que nos demos conta desse passar!... Vim com a intenção de ficar só até o Carnaval. O tal do Carnaval passou, e passou outra semana e já estamos entrando em outra e... eu aqui, toda tranquila e ainda querendo ficar mais um pouquinho... rs...  
Mas, faz-se hora de começar a pensar em voltar e (talvez) até o final de semana eu consiga "desgrudar" um tantinho destes meus amores daqui e voltar aos amores e amigos lá de Sampa... 
E assim, eu e este meu velho coração dividido vamos levando a vida, entre um pouso e outro, entre amores e amigos que me completam... E cada momento é mais precioso que o outro, cada dia um presente de Deus e da vida. 

domingo, 13 de março de 2011

A busca pela perfeição...


Ontem fomos ver Cisne Negro. Uma interpretação soberba de Natalie Portman num filme angustiante... Saí do cinema absolutamente atônita sem saber ao certo em que ponto de cada cena a alucinação tomava conta da realidade,.. 
Os filmes de suspense sempre me angustiam um pouco, mas desta vez a angústia ficou girando em torno de mim por muito mais tempo, por isso não sei se o veria de novo, apesar de reconhece-lo magnífico. Ainda estou tentando digerir as sensações que ele me causou. 

Sem dúvida, um grande filme que não ouso recomendar a qualquer um... 

sábado, 12 de março de 2011

Em final de verão...


Dormi embalada pelo barulhinho da chuva caindo sobre o telhado e acordo com a chuva fustigando a vidraça. Como diria Tom Jobim, são "as águas de março fechando o verão"... Um verão que não vivi, já que passei esses calorentos meses entre as neves de Winchester, o que me deixa um pouquinho (só um pouquinho) entristecida. Os ensolarados dias de verão, lindos ao amanhecer, a brisa fresca que se sucede aos temporais da tarde, as noites estreladas, os refrescantes sorvetes saboreados com o intúito de refrescar o corpo, as saladas fresquinhas e os sucos geladinhos que caem tão bem e que, diga-se de passagem, também fazem parte de meu cardápio de inverno... O alarido das crianças quando passam pela rua, a beleza dos jovens em seus trajes leves, e... aquela terrível sensação de se estar as portas do inferno, tal o calor que nos assola - afinal, tinha que ter alguma coisa menos agradável, não é? Nada é perfeito... rs...
Enfim, o verão já se foi, o outono bate a porta e, como o outono sempre foi a minha estação favorita, fico ouvindo a chuva cair lá fora com uma sensação gostosa percorrendo meus sentidos, numa antecipação dos próximos meses mais amenos, mais elegante, mais românticos...

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mais uma vez...


Mais uma vez o mundo para em expectativa diante de um fenômeno da natureza. Desta vez vemos o Japão, atingido por um dos maiores terremotos de sua história, e consequente tsunami. E, em consequencia disso, a costa do Pacifico fica em alerta, o mundo em suspense, rezando para que o tsunami vá perdendo força, diminuindo assim o risco de uma grande tragédia em cada um dos lugares por onde vai passar.
Diante dessa tristeza toda, o Prosa hoje fica calado, solidário com o sofrimento e o medo que sufoca parte do mundo.  

quinta-feira, 10 de março de 2011

Amanhecer com poesia...


Não digas adeus, ó sombra amiga,
Abranda mais o ritmo dos teus passos;
Sente o perfume da paixão antiga,
Dos nossos bons e cândidos abraços!

Sou a dona dos místicos cansaços,
A fantástica e estranha rapariga
Que um dia ficou presa nos teus braços…
Não vás ainda embora, ó sombra amiga!

Teu amor fez de mim um lago triste:
Quantas ondas a rir que não lhe ouviste,
Quanta canção de ondinas lá no fundo!

Espera… espera… ó minha sombra amada…
Vê que p’ra além de mim já não há nada
E nunca mais me encontras neste mundo!…




(Florbela Espanca)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Viver deveria ser...


"Pois viver deveria ser - até o último pensamento e derradeiro olhar - transformar-se."

(Lya Luft)


segunda-feira, 7 de março de 2011

No dia dedicado as mulheres...


Oito de março, Dia Internacional da Mulher...

Da mulher são todos os dias, sejam eles vividos entre lágrimas ou risos, entre  culpa ou perdão, entre amor ou ódio, entre amizade ou desprezo, entre lealdade ou traição, entre o céu e o mar... 
Da mulher são todos os dias em que ela luta, sonha, realiza, cria, desfaz, espera, corre, dança, brilha, se esconde, vive...

Então, o oitavo dia do mês de março de cada ano é apenas uma data ajustada no calendário para que ela receba (justas) homenagens, carinho, agrados, mimos, abraços, beijos e, principalmente flores... Muitas flores...


Festejando a data, deixo aqui, carinhosamente, flores para as amigas e leitoras do blog, e um lindo poema (que todas nós gostariamos de ter inspirado)



A Mulher Inspiradora

Mulher, não és só obra de Deus; 
os homens vão-te criando eternamente 
com a formosura dos seus corações, 
e os seus anseios 
vestiram de glória a tua juventude. 

Por ti o poeta vai tecendo 
a sua imaginária tela de oiro: 
o pintor dá às tuas formas, 
dia após dia, 
nova imortalidade. 

Para te adornar, para te vestir, 
para tornar-te mais preciosa, 
o mar traz as suas pérolas, 
a terra o seu oiro, 
sua flor os jardins do Verão. 

Mulher, és meio mulher, 
meio sonho. 

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera" 


(Tradução de Manuel Simões)



Um momento de superação...


Ontem fomos ao cinema ver "O Discurso do Rei".  Wowwwwwwww!!!...
Saí do cinema embargada. Quem já viu sabe porque. Quem ainda não viu, se puder, veja.
E nem digo mais nada, deixo a emoção para o momento de ser parte da platéia.

domingo, 6 de março de 2011

Na tarde do domingo de Carnaval...


A chuva resolveu dar uma trégua por aqui. O céu tem um ar meio carrancudo, mas o sol consegue passar alguns de seus raios por entre as nuvens, trazendo mais luz a esta tarde de domingo de carnaval.  
Carnaval!... Esta festa nunca me seduziu. Sempre preferi olhar de longe, embora  torcendo para que os foliões tivessem muita diversão. Até acompanho, a distância, através dos jornais ou da TV, os preparativos das escolas para o desfile esperando que transcorram como o planejado, imagino a ansiedade de cada participante, a luta para que tudo dê certo, a expectativa da festa... E torço muito por eles, para que consigam realizar seus sonhos na avenida, no sambódromo. Mas quando os desfiles acontecem não consigo sequer me prender diante da TV para assisti-los. Prefiro um bom filme, um livro, um bate-papo amigo, coisas assim. 
Por isso estou aqui, prazeirosamente acomodada  num sofá muito aconchegante, relendo A J Cronin (A cidadela), deixando minha alma vagar na companhia de Andrew Manson, um recém formado médico, envolto em ideais e sonhos, em pequenas cidades mineiras no País de Gales. Uma história bem interessante, com um tanto de auto-biográfica, que me encanta. Tenho por este livro um carinho muito especial porque foi após le-lo, em sua adolescência, que meu filho começou a pensar em seguir os árduos caminhos da medicina, caminhos que trilha hoje, com dedicação. 

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dois dedinhos de prosa...


Chove sem parar... Desde o começo da semana, chove... Chove... Chuvinha insistente, persistente, avisando que pode atrapalhar a viagem  de muita gente  que pretende aproveitar este feriado prolongado de Carnaval, insinuando que vai - literalmente -  jogar água na fervura que consome os foliões, encharcando o sambódromo e tirando a graça das fantasias tão cuidadosamente confeccionadas para os desfiles. Pelo menos aqui em Campinas, Dona Chuva não está dando trégua.
Pois é, São Pedro, vá lá que o Carnaval é uma festa pagã, que as pessoas abusam e cometem lá seus pecaditos, mas este povo anda tão precisado de uma alegria... As coisas por aqui não andam nada fáceis, meu Santo, e o senhor sabe bem disso, não sabe?. Tem acontecido cada coisa nesta nossa terra de Cabral, tantos descalabros, tantas misérias morais, tanta tristeza, que nem sei como este povo ainda não perdeu o sorriso. Até concordo com o senhor que o Carnaval é  o de menos, num cômputo geral, que muito pior são as tragédias e problemas que essa água toda vem causando... Já andam dizendo por aqui que o senhor anda esquecendo de calibrar o fluxo das torneiras ai no céu... Pois é, meu Santo, os homens são assim mesmo. Não cuidam do Planeta, acabam com o equilibrio da Natureza e, quando a coisa começa a desandar, sempre vão buscar um bode expiatório par receber a culpa... Não se zangue com eles... Um dia eles aprendem, viu? Mas, cá pra nós, bem que o senhor poderia reconsiderar e dar uma fechadinha nessas torneirinhas desreguladas que estão aí ao seu lado... Desculpe a minha ousadia, mas é que eu gosto tanto de ver meu povo feliz...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Frutos nascendo no jardim?...


Uma das orquídeas de Dona Conceição

Nas cidades do interior, por mais que cresçam, que se modernizem, sempre acabamos por encontrar um lugar mais bucólico, sem os ares de cidade grande, preservado em seus costumes, onde todo mundo ainda se conhece, onde o Pároco da igreja ainda  conhece seus fiéis pelos nomes, onde a vida corre mais gostosamente. E aqui em Campinas não poderia ser diferente.
Digo isso porque no último domingo, de passagem pela casa de Dona Conceição, mãe de minha nora - que alguns dos amigos do Prosa já conhecem por uma postagem colocada faz um tempinho, mostrando suas lindas orquídeas - deparei-me com um pé de mamão, já carregado de frutos, no centro do pequeno jardim da casa, bem ao lado da jabuticabeira que, todo ano, generosamente oferece seus doces frutos... Ambos cercados de flores, uma lindeza. Mas não é só isso, não... Do lado de fora do portão, junto ao meio-fio, uma pitangueira se exibe toda faceira, enfeitando a rua...  Não resisti, fotografei e trago para os amigos do Prosa um pouco da tranquilidade e da beleza da vida longe do burburinho do centro da cidade.

E a Pitangueira vem especialmente para nossa querida amiga Pitanga Doce, porque ao me deparar com aquela graciosa árvore foi na Mila (do acolhedor blog Pitanga Doce) que pensei.....


 Procê, Pitanguinha!.


A jabuticabeira,,,


O pézinho de mamão que nasceu sem pedir licença...


E, generoso, oferece seus frutos aos moradores da casa.

Quando se respeita...



"Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento."

(Simone de Beauvoir)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Jardim do Seridó - Mais um pedacinho do Brasil



Continuando com o projeto de trazer ao Prosa cidades que tenham nomes que chamem a atenção, por bonitos, curiosos ou diferentes, hoje vamos até o Rio Grande do Norte para conhecer "Jardim do Seridó"
Cidade localizada na região do Seridó, distante 224 Km de Natal, a capital do Estado, possui  clima  muito quente e semi-árido, com uma  população de, aproximadamente, 12.000 habitantes, sendo que  a vegetação predominante no município é a caatinga. 



Suas atividades econômicas caracterizam-se por uma produção incipiente voltada apenas para o mercado interno, exemplo da agropecuária, da pesca, do extrativismo vegetal e à silvicultura. O setor da indústria vem ampliando sua linha de atuação em cerâmicas, oficinas de ferro, fábricas de móveis, fábricas de calçados, fábricas de caixas de papelão e o  comércio vem se modernizando, bem como os serviços públicos, o que acaba por amenizar o problema da mão-de-obra desocupada. 
Pelo fato de a maioria da população não dispor de condições financeiras para a aquisição de jornais e revistas, ou poder acessar a internet, o rádio continua sendo o principal meio de informação da região, havendo somente uma única emissora na cidade, a Rádio Cabugi do Seridó.
Alguém lá do distante Jardim do Seridó passou ontem por aqui. Passou, não se identificou, mas deixou-nos muito contentes com a visita. É sempre um prazer  constatar a presença de pessoas de tão distantes rincões deste meu país, bem como de tantos recantos do mundo... É em momentos assim que o Prosa fica todo prosa...



Um coreto na pracinha... 


A tranquilidade das ruas o interior...


E o açude que abastece de água a cidade.

terça-feira, 1 de março de 2011

Devolver ao remetente?...



"Se eu pudesse, pegava a dor;  colocava a dor dentro de um envelope e devolvia ao remetente."

(Mario Quintana)

Na clareira ao pé do lago...



DE LA MUSIQUE


Ah, pouco a pouco, entre as árvores antigas, 
    A figura dela emerge e eu deixo de pensar... 

    Pouco a pouco, da angústia de mim vou eu mesmo emergindo...
    As duas figuras encontram-se na clareira ao pé do lago....
    ... As duas figuras sonhadas, 
    Porque isto foi só um raio de luar e uma tristeza minha, 
    E uma suposição de outra coisa, 
    E o resultado de existir...
    Verdadeiramente, ter-se-iam encontrado as duas figuras 
    Na clareira ao pé do lago? 
    ( ... Mas se não existem?...) 
    ... Na clareira ao pé do lago?...


(Alvaro de Campos)